Para se tornar borboleta é preciso passar pela fase de casulo. Essa frase parece mais lógica hoje, afinal, depois de tantos anos começo a perceber o que pode ser de fato o resplendor de uma borboleta. Quando criança sempre pensei o quanto seria bom crescer, ser livre, poder fazer o que eu quisesse (seja lá o que isso significava). Os anos passaram, eu cresci e percebi que continuava apertada em meu casulo. A gente sempre acha que vai chegar um momento na vida em que tudo realmente fará sentido, acredito que vivemos para isso, para esse pleno instante, quando você vai entender de fato por que todas aquelas crises existenciais aconteceram, porque algumas vezes as escolhas erradas foram ‘certas’ e as ‘certas’ foram erradas e porque as pessoas falam tanto que é ‘errando que se aprende’. Infelizmente esse momento é adiado, esse ano não, talvez no outro, mês que vem quem sabe, e a vida consome o tempo e o tempo consome a gente. Apostamos tudo em um futuro que não existe e vivemos para ele, corremos para ele, empreendemos para ele, e fugimos dele porque quando chega o futuro a gente vê o quanto o passado foi bom e nem percebemos. Irônico ter de esperar tanto tempo para perceber que o que a gente mais queria era estar aqui e que todas as suas escolhas afinal, te trouxeram aqui, talvez pelo simples fato de que era aqui que você deveria estar. Achamos estar nos libertando e quando percebemos estamos mais presos do que antes. Presos a idéias, as pessoas, aos objetos, aos ideais e numa falsa e oca liberdade. Falamos de peito estufado do que pensamos e não vemos que são apenas conceitos e que os anos mudam nossos conceitos tão rapidamente, já mudaram, ainda vão mudar. Além do mais, nenhuma idéia é nova, a não ser para nós mesmos. Então decidimos que o melhor é ficar aqui dentro desse casulo, sabe lá o que vamos encontrar lá fora, aqui está quentinho, confortável, não é o lugar dos sonhos mas é o mais seguro e o que conhecemos. Só que a vida é uma grande estrategista. Quando aceitamos o fato de que está tudo muito bem ou muito bom, a natureza te chama, te confronta, arranha suas paredes e te sufoca até você finalmente decidir sair do lugar. Surge então o doloroso momento de mudança, de quebrar a casca, de sair do ovo, de abrir os olhos e ver a luz. Mas a luz dói no primeiro momento, nos faz querer voltar atrás, nos assusta, e novamente lutamos com todas as forças para que o casulo não se desfaça. Não adianta, um dia todo mundo tem de virar borboleta! Aceitar esse fato acredito seja o primeiro passo, pois não depende de uma aceitação externa, a maioria das pessoas nem vai perceber suas belas asas, elas estarão preocupadas demais consigo mesmas. Mas você se estranha, aquela roupa lhe parece uma fantasia, chamativa demais, brilhante o bastante para atrair vários olhares. Mas é obvio que você não quer ofendê-los com sua nova beleza, no fundo mesmo você preferia ter ficado ali, despercebido. Só que a felicidade meu amigo não foi feita para ficar escondida e mais cedo ou mais tarde algum olhar mais atento vai perceber que você não é mais o mesmo. Além do mais, é nesta hora que o vento sopra e todo o resto começa a fazer sentido, você sente que suas asas balançam e que suas pernas não querem ficar no chão. Você sente um pulsar diferente no peito e sabe que era ali, exatamente ali que sempre esperou estar. Alguns vão demorar mais, talvez a vida toda, quem sabe mais de uma, outros, inquietos logo vão encontrar o caminho. Mas uma coisa é certa, no fim das contas todo mundo nasceu para ser borboleta. E quão belo será o jardim quando todas decidirem voar juntas!

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