segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A arte de ser borboleta



Para se tornar borboleta é preciso passar pela fase de casulo. Essa frase parece mais lógica hoje, afinal, depois de tantos anos começo a perceber o que pode ser de fato o resplendor de uma borboleta. Quando criança sempre pensei o quanto seria bom crescer, ser livre, poder fazer o que eu quisesse (seja lá o que isso significava). Os anos passaram, eu cresci e percebi que continuava apertada em meu casulo. A gente sempre acha que vai chegar um momento na vida em que tudo realmente fará sentido, acredito que vivemos para isso, para esse pleno instante, quando você vai entender de fato por que todas aquelas crises existenciais aconteceram, porque algumas vezes as escolhas erradas foram ‘certas’ e as ‘certas’ foram erradas e porque as pessoas falam tanto que é ‘errando que se aprende’. Infelizmente esse momento é adiado, esse ano não, talvez no outro, mês que vem quem sabe, e a vida consome o tempo e o tempo consome a gente. Apostamos tudo em um futuro que não existe e vivemos para ele, corremos para ele, empreendemos para ele, e fugimos dele porque quando chega o futuro a gente vê o quanto o passado foi bom e nem percebemos. Irônico ter de esperar tanto tempo para perceber que o que a gente mais queria era estar aqui e que todas as suas escolhas afinal, te trouxeram aqui, talvez pelo simples fato de que era aqui que você deveria estar. Achamos estar nos libertando e quando percebemos estamos mais presos do que antes. Presos a idéias, as pessoas, aos objetos, aos ideais e numa falsa e oca liberdade. Falamos de peito estufado do que pensamos e não vemos que são apenas conceitos e que os anos mudam nossos conceitos tão rapidamente, já mudaram, ainda vão mudar. Além do mais, nenhuma idéia é nova, a não ser para nós mesmos. Então decidimos que o melhor é ficar aqui dentro desse casulo, sabe lá o que vamos encontrar lá fora, aqui está quentinho, confortável, não é o lugar dos sonhos mas é o mais seguro e o que conhecemos. Só que a vida é uma grande estrategista. Quando aceitamos o fato de que está tudo muito bem ou muito bom, a natureza te chama, te confronta, arranha suas paredes e te sufoca até você finalmente decidir sair do lugar. Surge então o doloroso momento de mudança, de quebrar a casca, de sair do ovo, de abrir os olhos e ver a luz. Mas a luz dói no primeiro momento, nos faz querer voltar atrás, nos assusta, e novamente lutamos com todas as forças para que o casulo não se desfaça. Não adianta, um dia todo mundo tem de virar borboleta! Aceitar esse fato acredito seja o primeiro passo, pois não depende de uma aceitação externa, a maioria das pessoas nem vai perceber suas belas asas, elas estarão preocupadas demais consigo mesmas. Mas você se estranha, aquela roupa lhe parece uma fantasia, chamativa demais, brilhante o bastante para atrair vários olhares. Mas é obvio que você não quer ofendê-los com sua nova beleza, no fundo mesmo você preferia ter ficado ali, despercebido. Só que a felicidade meu amigo não foi feita para ficar escondida e mais cedo ou mais tarde algum olhar mais atento vai perceber que você não é mais o mesmo. Além do mais, é nesta hora que o vento sopra e todo o resto começa a fazer sentido, você sente que suas asas balançam e que suas pernas não querem ficar no chão. Você sente um pulsar diferente no peito e sabe que era ali, exatamente ali que sempre esperou estar. Alguns vão demorar mais, talvez a vida toda, quem sabe mais de uma, outros, inquietos logo vão encontrar o caminho. Mas uma coisa é certa, no fim das contas todo mundo nasceu para ser borboleta. E quão belo será o jardim quando todas decidirem voar juntas!

sábado, 1 de outubro de 2011

Enquanto "eu"


Há tanto tempo que não me proponho a escrever que as palavras parecem fugir do meu pensamento. Meus dias tem sido difíceis, longos, intensos, duros talvez.  Nada que se compare a um cárcere, apenas  minhas próprias prisões armadas. Dores que nunca partem, amarras. É como alguém que espera dolorasamente por um brilho de sol que abrande e que dê sentido a tudo, um sol que resiste em não aparecer. Em meio a isso me pego pensando sobre muitas coisas e uma delas a mais difícil: quem realmente sou. E logo neste primeiro passo fico sem resposta. Andei pela vida! Andei como um boi sedento a espera de um riacho, um Oasis sempre mais distante e inalcançável. Fiquei andando em círculos e eu nem sei por quanto tempo... hoje, ao parar e refletir sinto uma tristeza tão profunda por isso. Mas o tempo não retrocede então seguimos em frente. Tenho 25 anos, uma profissão, um bom lar, algumas bugigangas e muitos sonhos. Isso é tudo que tenho. Não tenho meus pais por perto, nem meus sobrinhos, não tenho colo quando gostaria, não tenho um amigo sempre ao meu lado, não tenho nada que preencha de fato esse vazio. O que tenho é essa casa vazia, silenciosa e muitas vezes assustadoramente fria. Aqui não tem vida, não tem calor! A vida esvaiu de um jeito por aqui, por ali, ali fora, cá dentro. Não se engane papel, não estou tentando preencher nada, pelo menos não com aquilo que não é? Mas o que de fato é? Sabe quando você questiona tudo e perde a razão das coisas. Em vez de encontrar razões eu as perdi. Sabe quando você quer rasgar essa pele e tentar encontrar algo mais, quando tudo te incomoda tanto que você nem sabe para onde correr. Sabe quando nenhum lugar serve? Lembro quando meu melhor amigo dizia que enquanto eu não me encontrasse iria vagar por muito tempo... Vaguei por muito tempo e continuo sem me encontrar. Tudo não parece passar de uma grande ilusão, e quando enterro meus sonhos para viver no presente, enterro também a mim, também o que sou. Não concordo com nada que está lá fora mas ainda necessito do que está lá. Sinto que se me arrancarem o pouco que resta eu estarei ainda mais vazia e neste ponto pode haver dois caminhos. Ou eu começo a preencher do zero, ou eu me perco nessa solidão. Estou com medo! Muito medo! e eu sei que se pedir conselhos as pessoas vão me dizer uma forma simples de resolver o problema, a forma mais fácil, eu poderia voltar ao que eu era. Mas e se isso não for o suficiente agora? E se eu não puder ou quiser voltar e se as escolhas fáceis não resolverem o problema. É certo, elas não vão! Mas é tanta dor que as vezes fico cega, mas lá dentro, lá dentro mesmo é como ouvir que eu só preciso resistir mais um pouco, um pouquinho só, o suficiente para terminar o que precisa ser terminado, e quando eu renascer a casca já terá rasgado e o novo será pleno. Talvez seja só uma questão de deixar esse ano para trás... engraçado, a Carol que aprendeu a sempre agir está prisioneira de uma certa inação física, e nem sabe lidar com todo esse processo interior. Passei tanto tempo fazendo coisas que quando a vida me pediu uma trégua para organizar eu pirei. E hoje, mais do que nunca vejo que enquanto houver uma lágrima para chorar, terei de deixar ela ir, é como se algo precisasse ser esvaziado. Uma guerra que eu me comprometi a lutar e que não me permite desertar. E nestas horas, coloco essa máquina a serviço do tempo, para que ele aja limpando tudo, destruindo os muros, rompendo as grades, destrancando as portas e finalmente deixando o rio correr. É como se tudo que eu carreguei comigo agora precisasse ser deixado para trás e como é duro, como é difícil deixá-los no caminho. Mas eu sei, eu sei que por mais dolorido que seja, é agora que preciso fazer isso e nem o medo, nem as dores, não a nada que me faça querer parar esse processo. Eu tenho fé, muita fé e coloquei o meu corpo a disposição divina, para que seja feita a transformação necessária aqui. Enquanto não me encontro eu terei de seguir as escuras, tateando entre cômodos de ilusão. Uma hora mais acordada, na outra mais dispersa. Ele certamente tem um propósito que envolve tudo isso, talvez hoje seja difícil entender, mas um dia, eu sei que vou agradecer.